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Castle of Avis

Avis, Portalegre - Portugal

O “Castelo de Avis” localiza-se na freguesia e concelho de Avis, distrito de Portalegre, em Portugal.

A sua edificação prende-se à instalação da Ordem Militar de São Bento de Avis na região do Alentejo.

História

Antecedentes

A primitiva ocupação humana da região remonta à pré-história, como se depreende da presença do conjunto megalítico existente na Herdade da Ordem de Avis.

O castelo medieval

À época da Reconquista cristã da região, as Terras de Avis foram doadas por Afonso II de Portugal (1211-1223) aos freires de Santa Maria de Évora, então sob a dependência da Ordem de Calatrava, na pessoa de seu terceiro Mestre, D. Fernão Anes (ou Eanes), com a condição de que povoassem e erigissem um castelo (1211). Os freires instalaram-se em Avis em 1214, dando início à construção do castelo e da cerca urbana, obras orientadas pelos Mestres D. Fernão Anes e D. Fernando Rodrigues Monteiro (quarto mestre da Ordem). Em abril desse ano, registou-se a composição entre D. Fernão Eanes, mestre de Avis, e o bispo da diocese de Évora, D. Soeiro, sobre a utilização dos rendimentos da albergaria de Évora e da povoação de Benavente. No ano seguinte, D. Mafalda de Portugal, filha de Sancho I de Portugal (1185-1211), doou ao Mestre de Avis a povoação de Seia (12 de janeiro), e D. Afonso II outorgou aos povoadores de Avis um foral semelhante ao de Évora (10 de julho de 1215), diploma que confirmou em agosto de 1218.

Com a subida de Sancho II de Portugal (1223-1248) ao trono Martim Fernandes, mestre da Ordem de Avis, outorgou foral à povoação (20 de agosto de 1223). Neste momento estariam concluídas as obras do castelo e da cerca da vila. Ainda na primeira metade deste século foi erguido o primitivo edifício do convento da Ordem de São Bento de Avis.

Em 1331 Gil Peres, mestre da Ordem, obteve uma sentença contra o mouro forro, Mafamede Francelho, que fora designado pela sua comunidade como alcaide e juiz da mesma, ficando, a partir desta data, dependente dos alcaides do castelo.

A partir da ascensão ao trono de seu Mestre, como João I de Portugal (1385-1433), o nome da Ordem ficou associado à História de Portugal, passando a mesma para a dependência da Coroa.

Em meados do século XV registam-se reabilitações das defesas de Avis por iniciativa do Condestável D. Pedro de Portugal (1443-1466): em 1456 procede-se a construção da torre de menagem, adossada aos aposentos conventuais, e a pintura do interior da mesma, por ordem do mestre D. Pedro. Posteriormente, em 1473, Afonso V de Portugal (1438-1481) autorizou o corte na torre da Porta de Évora, para a transformar em pombal.

No século XVI, a tradição historiográfica refere ter havido alterações nas fortificações de Avis. Em 1512 a vila recebeu o Foral Novo, outorgado por Manuel I de Portugal (1 de janeiro de 1512).

O tombo dos bens do Convento, efetuado por Jorge Lopes (1566) refere a torre de menagem ligada ao Paço dos Mestres, com duas salas abobadadas e escada interna abobadada e iluminada por seteiras, levando ao topo, onde surgia uma construção revestida a cortiça e com chaminé. Era ameada e tinha, nos ângulos, orifícios onde se hasteavam as bandeiras. Tinha uma janela gradeada, encimada pelas armas de Avis e uma inscrição.

No século XVII regista-se o entaipamento da antiga Porta do Arco de Baixo e a construção da nova Porta do Arco. Nesse período, o padre Jorge Cardoso refere que existiam cinco torres e seis portas. (“Agiológio Lusitano”, 1625)

Da Guerra da Restauração aos nossos dias

No contexto da Guerra da Restauração (1640-1668), sob o reinado de João IV de Portugal (1640-1656), foram demolidas duas torres, uma a nordeste e outra a sudoeste, provavelmente para, com os seus materiais, se construírem os dois revelins ou redentes, a sul e a sudoeste. Ainda nesse período registou-se um pedido de Frei Ambrósio Marques para o derrube da torre do castelo adossada ao convento, que ameaçava ruína (torre situada junto às escadas de acesso ao atual edifício da Câmara Municipal), tendo caído uma parte sobre um galinheiro (19 de outubro de 1654).

O padre Carvalho da Costa referiu que existiam cinco torres e seis portas: a do Anjo, a de Baixo (ou Porta da Rainha), a de Évora, com um cruzeiro fronteiro, a de Santo António (ou Porta Nova), a de São Roque e a do Postigo. (“Corografia Portuguesa”, 1708)

A descrição do castelo por D. Francisco Xavier do Rego (1730) dá conta da existência de seis torres (da Rainha, da Porta de Évora, da Porta de São Roque, da Porta de Santo António, de Santo António e a Torre de Menagem), com seis portas (do Anjo, de Baixo, de Évora, de São Roque, de Santo António e do Postigo). Regista ainda a existência de duas inscrições epigráficas:

- uma em uma lápide de calcário rezando: "Era de 1330, a 6 dias de Fevereiro, começárão a fazer este Castello por mandado do Mestre de Aviz Dom Lourenço Affonso, e elle pos a primeira pedra, M.C.C.B.III.C Castello";

- outra na torre de menagem, sobre a cruz da Ordem de Avis: "Era de 1336 annos a 25. dias andados de Fevereiro, fez este Castello Dom Lourenço Affonso Mestre de Aviz à honra, e Serviço de Deos, e de Santa Maria sua Madre, e das Ordens do muito nobre Senhor Dom Diniz Rey de portugal, e do Algarve, Reynante em aquelle tempo, e em defendimento de seus Reynos. Salvator mundi Salva me".

Nas “Memórias Paroquiais” (1758) frei Gaspar Xavier Leitão referiu que a vila tinha um muro em toda a volta, constituindo uma praça regular, tendo, no século XVII, sido construídos dois fortes a protegerem a porta de Évora e de Santo António. O castelo tinha seis torres bastante altas, duas delas derrubadas para a feitura dos fortes, ficando à altura dos demais muros. As quatro remanescentes estavam incólumes, sendo elas a de Menagem, a da Porta de Santo António, a da Porta de São Roque, que era a do rebate, e a dos Mestres, por nela viverem os mestres da Ordem e então servindo de cárcere aos frades. Tinha seis portas: a Debaixo, a do Anjo, a de Évora, a de Santo António, a de São Roque e a do Postigo. A defesa era rodeada por uma ribeira, criando um fosso natural e por penhascos, tornando-a de difícil acesso.

Um século e meio mais tarde, num artigo do jornal "O Século", foi referida a existência de uma torre muito antiga, com janelas góticas, cada uma delas com um sino. (4 de dezembro de 1892)

Quando da extinção das ordens religiosas em Portugal (1834), a Ordem de Avis possuía em seus domínios 18 vilas, 49 comendas e 128 priorados. A partir de então esse património desfez-se, tendo as dependências do Convento-sede em Avis sido vendidas a particulares. À época, a Câmara Municipal adquiriu a residência dos mestres da Ordem, ali instalando os Paços do Concelho. A fortificação entrou em processo de degradação.

O “Castelo de Avis”, também referido como “Castelo e cerca urbana de Avis”, encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo, 1.ª série, n.º 136, de 23 de junho.

Entre 1915 e 1918 procedeu-se à demolição da antiga torre de menagem, anexa ao Convento de São Bento de Avis. Pouco depois, a Câmara Municipal executou a caiação de parte das muralhas junto ao terreiro do Convento de Avis (1921).

Em 1941 (30 de maio) cogitou-se em manter a cedência de uma das torres do “Prédio Militar n.º 1 de Avis” (o castelo), ao Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Avis. Foi expedido o parecer que o imóvel não deveria ser alienado, mantendo-se arrendado a particulares.

À época constatou-se que grande parte da muralha estava integrada em prédios particulares. Desse modo, um ofício da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), datado de 25 de novembro de 1943, versa sobre a necessidade de expropriar alguns edifícios para se proceder ao desafrontamento das muralhas e torres do castelo. Um ano mais tarde, António Pais da Silva Marques, um grande proprietário agrícola de Avis, escreveu uma carta à DGEMN, onde referiu que era utópica a pretensão de restituir o Castelo ao seu estado primitivo, pois seria necessário demolir toda a povoação, com as casas adossadas à muralha ou a menos de 50 metros das mesmas (8 de novembro de 1944). Desse modo, decidiu-se o levantamento da planta da vila e das muralhas e o estudo da possibilidade de demolir alguns imóveis (20 de janeiro de 1945). Esses trabalhos arrastaram-se: em 5 de março de 1947, a planta ainda não estava levantada e nem haviam sido designados os imóveis para demolição.

A partir do final da década de 1950, e nas décadas seguintes, a DGEMN procedeu a reconstrução de panos de muralha e consolidação das que estavam em mau estado junto à Rua dos Muros (1959), o restauro dos terraços da torre e do adarve junto ao Hospital da Misericórdia (1967, a consolidação da torre junto ao Hospital (1970), a construção de cintas de betão na torre junto ao Hospital, a reparação da segunda torre, a reconstrução de rebocos e caiação no arco de acesso ao Mosteiro e a reparação de diversos panos de muralha (1971), a reconstrução de coberturas e telhados, picagem de rebocos e refechamento das juntas das muralhas e limpeza de vegetação, o assentamento de uma porta de madeira na torre, a reparação de paramentos, rebocos e caiação dos mesmos (1974), obras de conservação nas torres e muralhas, com reconstrução e impermeabilização do terraço da torre junto ao Hospital, com colocação de pavimento de tijoleira e reparação das gárgulas; reconstrução das zonas afectadas da torre, com limpeza de vegetação e substituição de silhares (1985-1986), recuperação do adarve e construção de alguns degraus no mesmo para vencer desníveis, e consolidação de um troço de muralha (1988).

O imóvel foi afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) pelo Decreto-lei n.º 106F/92, publicado no Diário da República, 1.ª série-A, n.º 126, de 1 de junho. Encontra-se afeto à DRCAlentejo pela Portaria n.º 829/2009, publicada no Diário da República, 2.ª série, n.º 163, de 24 de agosto.

Características

Exemplar de arquitetura militar, medieval (castelo com cubelos) e moderna, abaluartada, de enquadramento urbano, adossado ou integrado em edifícios residenciais, na cota de 196 metros acima do nível do mar, implantado no topo de uma colina, dominando o vale envolvente e permitindo a observação de uma vasta paisagem e a comunicação visual com outros pontos fortificados, como Alter do Chão e Pavia (Mora).

O conjunto é composto por muralhas de que subsistem vestígios nos lados sul, leste e oeste da povoação, a saber três torres de planta quadrangular (da Rainha, de Santo António e de São Roque), dois cubelos de planta circular e dois baluartes.

As muralhas são em alvenaria de granito e xisto, este em predominância, ostentando, nas mais antigas, aparelho em espinha, com vestígios de adarve.

O interior das torres apresenta abóbadas de berço. Na torre de São Roque encontra-se inscrição que reza: "FERNANDUS MAGISTER DEI GRA ORDINIS CALATRAVEN IN PORTUGAL CUM SUO CONVENTU IPLAVIT AVIS IN FESTIVITATE ASSUPCIONIS SCE MAR E M.CC.LII STEFANUS MARTINI SCRIPSIT PATER NOSTER PRO AIA EIUS" ("FERNANDO POR GRAÇA DE DEUS MESTRE DA ORDEM DE CALATRAVA EM PORTUGAL COM SEU CONVENTO FUNDOU AVIS 1214").

As lendas do Castelo de Avis

De acordo com uma lenda local, alguns frades andavam à procura de um local apropriado para a construção de uma fortificação quando, num monte fronteiro ao território ainda sob o domínio muçulmano, viram duas águias pousadas num sobreiro. Tal fato foi considerada como um sinal favorável, e decidiram a construção do castelo naquele local, a que chamaram “Avis”, que em latim significa “ave”. As águias tornaram-se parte integrante do símbolo da Ordem.

Uma outra lenda narra que o castelo foi erguido em segredo, a coberto da noite, sendo ocultado ao alvorecer com ramos de árvores, para que o inimigo mouro não se apercebesse da construção cristã.



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